Revisitar a infância ou reviver o passado para muitos pode ser um exercício rotineiro, mas para outros, é apenas mais uma forma de aprender a valorizar a vida. Confesso que nunca gostei da nostalgia de relembrar a infância, mas vez ou outra ela tomam conta da memória. Nos últimos três meses, eu tenho tido o privilégio de reencontrar velhos conhecidos, amigos, parceiros, colegas de escola, professores, pessoas que contribuíram para a formação dos meus princípios, dignidade e da minha índole. Então, estou aprendendo que relembrar o passado é mais do que um simples resgate, é valorização da vida.
Só hoje, sei que naquela época me faltava sabedoria, paciência, conceitos, responsabilidade, e que mesmo assim, algumas pessoas que faziam parte do meu convívio apostavam no meu crescimento. E que com o passar dos anos, ele veio (lentamente, como deve ser) e eu me tornei uma pessoa melhor. E por mais que eu tenha alcançado meus objetivos e realizado parte dos meus sonhos, a maior satisfação é saber que agora eu posso mostrar àqueles que sempre acreditaram em mim, que eu não os decepcionei.
Outro dia, fui fazer um trabalho na cidade onde morei com meus pais por mais de 12 anos, e a frase que eu mais ouvi foi “quanto tempo! – Você casou? – Está trabalhando com o quê?”, aqueles questionamentos básicos de quem está há anos sem se ver. Isso aconteceu com uma ex-professora minha, e ao responder, eu pude perceber o orgulho que ela sentiu em ter apostado na minha educação, e em acreditar que o papel do mestre é o de educar com amor e dedicação. Por essas e outras, é muito difícil descrever a alegria de reencontrar amigos e mestres, porque de uma forma ou de outra eles interferiram na formação do nosso caráter.
É muito difícil expressar a alegria de regressar ao passado, e como em uma máquina do tempo, voltar a ser aquela criança pilhada, a adolescente rebelde, a jovem ansiosa e a aluna mais crítica da sala. A doce sensação de recordar velhas aventuras e sentir a agitação e a adrenalina no timbre de voz fez brotar o meu peito sentimento de gratidão à todos os meus colegas de escola, amigos de infância, mestres e educadores que plantaram ao longo da minha juventude a semente do amor, determinação, esperança, sonho, amizade, respeito e gratidão.
O interessante é que o tempo passa e a gente quase não percebe nosso próprio crescimento e maturidade, é preciso que outras pessoas o façam para que a ficha caia. E foi isso que aconteceu comigo, precisei voltar à cidade onde cresci para entender que todo o sofrimento e dificuldade da vida me transformou em uma pessoa guerreira, dedicada e forte; foi preciso voltar ao lugar onde meu pai morreu para perceber que ele está vivo dentro de mim; foi preciso reencontrar um mestre para descobrir que mesmo com toda a displicência consegui aprender direitinho a lição; Hoje eu sei que é preciso voltar às origens para valorizar as conquistas e aceitar o reconhecimento daqueles que sempre apostaram em você.